Presidente do IEP na Gestão 1947 a 1948
A SURPRESA DA PRESIDÊNCIA
Uma eleição com lances inesperados. Venevérito da Cunha, engenheiro especialista em cálculo estrutural era um dos pilares de uma das chapas concorrentes naquele 23 de março de 1947, um domingo do comecinho do outono curitibano. Figurava como tesoureiro. No grupo, porém, faltava o principal, o candidato a presidente. É que havia duas outras chapas inscritas (embora não formatadas formalmente, já que cada um concorria isoladamente aos cargos) e uma profusão de nomes que se ofereciam ao voto dos associados.
Nas vésperas do pleito, diante do prazo final para inscrição de candidatos, Venevérito foi convocado pelos companheiros para assumir a cabeça do grupo. Atuar como o pilar principal de sustentação. Relutou, mas aceitou. E venceu. Derrotou o presidente Oswaldo Pilotto, que almejava mais uma reeleição, e o professor Paulo Aguiar. Um resultado apertado: 19 votos para Venevérito, 17 para Aguiar e um para Pilotto.
Para a vice-presidência, venceu Hasdrúbal Bellegard; Algacyr Guimarães, derrotado, seria, anos mais tarde, governador do Paraná, eleito pela Assembleia Legislativa. O governador, Ney Braga, havia sido chamado para o Ministério da Agricultura, em 1964, pelo presidente Humberto de Alencar Castllo Branco. E renunciou ao mandato, assim como seu vice, Affonso Alves de Camargo Neto, em razão de acertos políticos.
Na 1ª secretaria, o vitorioso foi Raul Iwersen, à frente de Carlos Amorety Osório, Júlio Cesar de Souza Araújo e Silvestre de Souza; na 2a, Júlio Cesar de Souza Araújo suplantou Raul Bruel Antonio, Mário De Mari e Osman Pierre; Pedro de Miranda Assy foi consagrado tesoureiro, também num apertado resultado de 20 a 17 votos dados a Walter Scott de Castro Vellozo; o novo orador, Cláudio Manoel de Loyola e Silva, venceu Oswaldo Pilotto, Silvestre Souza e Paulo Aguiar; e Adherbal Sprenger Passos foi escolhido redator, com mais votos do que o concorrente Carlos Luís Lück. A posse foi na quinta-feira 27.
Venevérito da Cunha nasceu em Florianópolis (SC) em 29 de agosto de 1916. Cursou Engenharia na Universidade do Paraná e já no segundo ano começou a trabalhar como fiscal de argamassa e depois desenhista do serviço de Engenharia da 5a Região Militar.
Diplomado em 1942, foi contratado pela Secretaria de Viação e Obras Públicas do Paraná. Até 1950 trabalhou em sociedade com alguns colegas de turma, fazendo projetos de cálculo estru- tural, como o da Penitenciária Agrícola de Piraquara e algumas edificações; atuou, também, na construção civil em Ponta Grossa.
Além de associado ao IEP, que presidiu, Venevérito foi filiado a entidades internacionais ligadas à sua atividade, como a Sociedade Americana de Engenharia Civil e The Concrete Society, da Inglaterra.
Em 1950 abriu um escritório de cálculo estrutural próprio, por onde passaram muitos estudantes de engenharia e desenhistas que se tornaram profissionais bem sucedidos. O escritório tornou-se ponto de referência e nele foram calculadas plantas de obras como a Biblioteca Pú- blica do Paraná (única obra que ficou pronta para o centenário do Paraná), edifícios-sede da Prefeitura de Curitiba, do Instituto de Engenharia do Paraná, da Ordem Rosa Cruz, da Celepar, Casa de Saúde e Maternidade Dr. Paciornick, anexo do Tribunal de Contas do Paraná, prédios do Sesi, Senai, sinagoga Francisco Frischmann, edifícios Alvorada, Orion, Pussoli, Cosmos, José Loureiro, Construtora Independência, da TV Iguaçu Canal 4, o Fórum de Londrina, entre vários outros.
Em Santa Catarina, também existem marcas do trabalho de Venevérito da Cunha, como nas obras das Indústrias Dohler, Fundição Tupy, fóruns de Joinville e de Caçador, prédios em Camboriú, estádio do Figueirense, em Florianópolis, edifício da Federação das Indústrias e muitas outras.
Foi, ainda, responsável por projetos de diversas obras importantes não só no Paraná e Santa Catarina, como no Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso. A extensa relação de trabalhos prestados tanto para governos estaduais como para a iniciativa privada inclui escolas, hospitais, pontes, reservatórios, igrejas, agências bancárias, lojas de departamentos, como a antiga Hermes Macedo.
Venevérito aposentou-se em 1981, mas continuou por alguns anos em atividade em escritório na sua residência. Em 2009, aos 93 anos, foi escolhido pelos associados do IEP como “Engenhei- ro do Ano”, recebendo o Troféu Paraná de Engenharia, em concorrida solenidade.
*Texto extraído do Livro Um Pioneiro A Caminho do Centenário, por Júlio Zaruch.