Presidente do IEP na Gestão 1948 a 1955
OS ALICERCES DO EDIFÍCIO-SEDE
A chegada dos anos 1950 marca uma nova e importante etapa na história do IEP. É quando começam a ser pensados os primeiros alicerces de sua sede própria, inicialmente num endereço diferente do atual. Ao final da gestão Venevérito da Cunha, a entidade elegeu o engenheiro Carlos Luís Lück que, um ano antes, não tivera sucesso em sua tentativa como aspirante ao cargo de redator de publicações científicas na diretoria.
E Lück chegou à presidência para nela ficar um bom tempo. Quatro mandatos. Entre 1948 e 1955, os dois últimos já dentro dos novos critérios estatutários que estabeleciam gestões bienais. No primeiro, para o qual foi eleito em 29 de março de 1948, vencendo seu colega Paulo Aguiar, trabalhou ao lado de Rubens S. F. do Amaral, vice-presidente; Mario Cadagnone, 1º secretário; Plínio Franco Ferreira da Costa (um futuro vice-governador do Paraná), 2º secretário; Pedro de Miranda Assy, tesoureiro; Adherbal Sprenger Passos, orador; e José Waldomiro Macedo, redator. Em 1º de junho de 1948, ficou decidido que “o IEP manterá em sua sede jogos de xadrez e outros”.
Foi na segunda gestão de Lück (1949-1950), que foram dados os primeiros passos em direção ao edifício-sede. Na primeira, duas foram as preocupações básicas do IEP: acompanhar, na Câmara Federal, o projeto de lei que alterava o Decreto-Lei nº 23.596/33, aquele baixado pelo governo provisório de Vargas, com o associado e deputado federal Bento Munhoz da Rocha Neto marcando presença nas discussões, e o novo Código de Obras de Curitiba. Em paralelo, o ex-presidente Venevérito da Cunha pedia o cumprimento do Plano Agache.
O Plano Agache, considerado o segundo grande plano urbanístico de Curitiba, elaborado pelo arquiteto e urbanista francês Alfred Donat Agache, que já havia desenvolvido estudos semelhantes para o Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras, foi encomendado pelo interventor do Paraná, Manoel Ribas, em 1940, na gestão do prefeito Rozaldo de Mello Leitão. Curitiba tinha, então, 120 mil habitantes. Estabeleceu um sistema radial de vias em torno do centro principal e definiu a construção de grandes avenidas, como Visconde de Guarapuava, Sete de Setembro, Nossa Senhora da Luz e Marechal Floriano Peixoto, o Centro Cívico e a zona industrial no bairro Rebouças, entre outros setores.
Ao renovar pela primeira vez seu mandato, na assembleia de associados de 29 de março de 1949, Lück foi eleito na companhia de Alaor Barbosa Borba, vice-presidente; Vicente Montanha, 1º secretário; Mário De Mari, 2º secretário; Agostinho Schwab, tesoureiro; Lysimaco Franco Ferreira da Costa, orador; e Oswaldo A. Sampaio, redator. Uma diretoria bastante diferente da anterior.
Em 16 de fevereiro do ano seguinte, uma nova assembleia geral, convocada “para tratar da construção da sede do IEP em terreno doado pela Prefeitura Municipal de Curitiba”, organizou quatro comissões para a largada do projeto: Relações com os Poderes Públicos, Projeto, Estudo para Emissão de Bônus e Finanças.
A Comissão de Relações com os Poderes Públicos foi composta dos associados Linneu Ferreira do Amaral, Plínio Tourinho, Ângelo Lopes, Raul Azevedo Macedo, Gastão Cordeiro, Bento Munhoz da Rocha Neto, Oswaldo Pacheco de Lacerda, Algacyr Munhoz Mäder, Cid Luz, Oscar Gomes do Amaral, Lysimaco Costa, José Nogueira Paes, Raul Bruel Antonio, Benjamin de Andrade Mourão e Felizardo Gomes da Costa.
Na Comissão de Projeto alinharam Linneu Ferreira do Amaral, José Bittencourt de Paula, Ernesto Guimarães Máximo, João Wenceslau Ficinski Dunin, Ayrton João Cornelsen, Rubens Meister, Cláudio Loyola e Silva, Raphael Klier de Assumpção e Rubens Mômoli.
A Comissão de Estudo para Emissão de Bônus contou com Luiz Carlos Pereira Tourinho, Pedro Viriato Parigot de Souza, Oswaldo Pilotto, Nestor Nivaldo Dittrich, Alaor Barbosa Borba, Venevérito da Cunha, Antonio Baptista Ribas, Walter Scott de Castro Vellozo e Othon Mäder.
E a Comissão de Finanças teve a participação de João Moreira Garcez, Odilon Mäder, Rivadávia Fonseca de Macedo, Joaquim M. M. Franco, Vicente Montanha, Agostinho Schwab, Mário De Mari, João de Oliveira Franco Filho, Carlos Eduardo Veiga Leão, Raul Zenha de Mesquita, Tadeu Vantroba, Arédio Xavier de Miranda, João Dernízio Puppi, Raul Iwersen, José Filizola, Roberto Faria Afonso da Costa, Carlos Amorety Ozório, Hasdrúbal Bellegard, José Theodoro Guimarães e Olívio Zagonel. Na coordenação geral dessas comissões estava o engenheiro Ruy Virmond Carnasciali.
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NOVIDADES:
Mandato bienal e Conselho Fiscal
A terceira gestão de Carlos Luís Lück (1950-1951) introduziu mudanças na condução do Instituto, através da alteração dos Estatutos, em dezembro de 1950: os mandatos passaram a ser de dois anos e foram criados o Conselho Fiscal e a categoria de sócio-acionista (até então, os sócios eram titulares, honorários, beneméritos e aspirantes); o início do ano social é definido para 27 de março. Nas eleições de 22 de março, realizadas na sede do Clube Curitibano, Lück havia sido reeleito juntamente com Borba, Montanha, De Mari e Schwab, na vice-presidência, 1a e 2a secretarias e tesouraria, respectivamente, mas Ney de Almeida Faria e Plínio Costa foram os escolhidos como orador e redator de publicações científicas.
Em maio, o advogado Ernani Santiago de Oliveira (que, quatro anos depois, seria o último prefeito de Curitiba nomeado antes das eleições municipais pós-redemocratização, que levariam o então major Ney Aminthas de Barros Braga ao Paço da Liberdade e a uma longa carreira vitoriosa na política paranaense), é contratado pelo Instituto para assessorar a emissão de bônus ou ações que dariam suporte à construção da sede própria do IEP.
No final do primeiro semestre de 1950 é aprovado o regulamento que “autoriza a diretoria do IEP a emitir 200 (duzentas) ações nominais e patrimoniais no valor de Cr$ 5 mil (cinco mil cruzeiros, moeda da época) cada uma”. Essas ações seriam garantidas pelo patrimônio imóvel do Instituto e só poderiam ser vendidas a sócios quites com a tesouraria. O atraso de três parcelas cancelaria a ação e os valores já pagos, descontados 10%, seriam creditados na conta de mensalidades ordinárias do sócio.
As ações só poderiam ser transferidas depois de integralizadas, com termo lavrado em livro próprio, e com cobrança de emolumentos de 10%, com exceção de doação de pai para filho ou herança. O IEP também poderia resgatá-las, pelo valor atualizado, em caso de falecimento do sócio.
Até então, todo planejamento girava em torno do terreno localizado na avenida Barão do Serro Azul, entre ruas 13 de maio e Presidente Carlos Cavalcanti, doado pela Prefeitura de Curitiba, na gestão Linneu Ferreira do Amaral (1949-1951). E já havia um interessado na compra de um andar do futuro prédio: a Associação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná. A assembleia geral de 25 de outubro, porém, estabeleceu que o Instituto poderia ceder ou locar espaços, mas não vendê-los.
Mas tudo mudou no começo de 1952. Um ex-diretor do IEP, Bento Munhoz da Rocha Neto, havia sido eleito governador do Paraná, empossado em 31 de janeiro de 1951. “Por questões técnicas e de interesse do Instituto”, conforme destaca o ex-presidente Luiz Carlos Pereira Tourinho em relatório alusivo ao cinquentenário do IEP, datado de 31 de dezembro de 1976, a entidade voltou-se para outro endereço, na rua Emiliano Perneta, onde, em tempos passados, havia funcionado a Escola Profissional Feminina República Argentina. E obteve de Munhoz da Rocha a doação da nova área.
A diretoria do biênio 1951-1953 havia sido eleita em 7 de março de 1951. O interessante é que havia duas chapas concorrentes e ambas eram encabeçadas por Lück e tinham na vice-presidência Alaor Barbosa Borba, e como orador, Ney de Almeida Faria. A chamada “chapa oficial”, como informa a ata, perdeu, obtendo apenas 10 votos. Nos demais cargos estavam Vicente Montanha, Mário De Mari, Agostinho Schwab e Plínio Costa, mais Alberto Franco Ferreira da Costa, Wilson Johnson e Flávio Toledo Gomide, no Conselho Fiscal.
A chapa vitoriosa, batizada de “Plínio Tourinho”, recebeu 27 votos e Lück, Borba e Faria tiveram como pares Wilson Johnson, 1º secretário; Rubens Mômoli, 2º secretário; Edmundo Talamini, tesoureiro; e Adherbal Sprenger Passos, redator; no Conselho Fiscal, Vicente Montanha, Venevérito da Cunha e Alberto Costa.
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NOVA GESTÃO, AS PRIMEIRAS ESTACAS
Ao mesmo tempo em que conduzia as tratativas para a obtenção do novo terreno, a diretoria do Instituto pleiteava, por sugestão do engenheiro Parigot de Souza, a criação da Faculdade de Arquitetura do Paraná, o que só foi concretizado anos mais tarde.
O terreno da Emiliano Perneta passa para os domínios do IEP com a condição da entidade transferir o imóvel da Barão do Serro Azul ao Montepio dos Professores e Funcionários da Faculdade de Medicina do Paraná que, por sua vez, deveria doar ao Instituto um andar no prédio a ali ser edificado. O que acabou não se concretizando.
Para fazer caixa visando à obtenção de recursos para a futura sede, o Instituto é autorizado a locar, por três anos, uma parte do terreno (510m²) a uma empresa do ramo agrícola. É a faixa, nos fundos, depois transformada em estacionamento para sócios e sobre a qual foi edificado, em 2009, o Centro de Eventos. Um barracão de madeira, parte remanescente da demolição da velha escola, adaptado, funcionou como sede provisória do Instituto e palco de importantes acontecimentos.
Na sede improvisada, “foi providenciada a elaboração do projeto do edifício e do cálculo da estrutura, o primeiro de autoria do eminente professor Rubens Meister e o segundo, do engenheiro calculista Venevérito da Cunha”, como informa o ex-presidente Tourinho em seu relatório de 1976, ressaltando que ambos prestaram seus serviços sem ônus para o Instituto.
Nesse clima de avanços, Lück é mais uma vez reeleito presidente, dia 4 de março. Vai cumprir a gestão 1953-1955, sua última, com a diretoria formada por Alaor Barbosa Borba, vice-presidente; Jahyr Leal, 1º secretário; Pedro Mortensen Neto, 2º secretário; Vicente Montanha, tesoureiro; Ney de Almeida Faria, orador; e Cláudio Manoel de Loyola e Silva, redator. Elato Silva, Venevérito da Cunha e Ruy Carnascialli formam o Conselho Fiscal.
Em novembro de 1953, um novo e importante passo: é lançado o edital de concorrência administrativa para execução dos serviços de fundação do edifício-sede. Só poderão concorrer firmas devidamente registradas no Crea-PR, “cujo engenheiro responsável seja sócio acionista deste Instituto, quite com a tesouraria e tenha resgatado pelo menos metade do valor da ação para a construção da sede”.
Nas propostas, que devem ser entregues até 30 de novembro devem constar: justificação do tipo de fundação adotada, preço global dos serviços, relação dos preços unitários, materiais a serem aplicados, prazo para início e conclusão dos serviços, plantas e especificações fornecidas pelo IEP e condições de pagamento.
Três empresas se credenciam aos serviços: Estacas Franki, Mueller, Caron & Cia e Estaqueamento Paulista Ltda (Estapal). As três propostas são rejeitadas pela comissão julgadora, formada pelos engenheiros Alberto Pinto de Miranda, Joaquim Martins Franco, João de Oliveira Passos, Laércio Forbeck e Benjamin de Andrade Mourão: a Estapal foi eliminada pela falta de documentos, apesar de lhe ter sido concedido um prazo extra de cinco dias; a Mueller, Caron & Cia porque, além do preço mais alto e da obra mais demorada, queria receber 85% do custo após cravar 50% das estacas, entre outros itens inaceitáveis; a Estacas Franki não era clara sobre o preço de alguns itens e apresentava detalhes técnicos incompletos.
Mas as duas últimas refazem as propostas dentro do prazo estipulado e, depois de votação secreta, a comissão proclama a Estacas Franki vencedora. As obras deverão ser iniciadas até 15 de janeiro de 1954. Com isso, Lück encerra seu longo período na presidência.
Nascido em Paranaguá, em 24 de junho de 1914, Carlos Luís Lück, engenheiro civil pela Universidade do Paraná, cumpriu carreira profissional em diversos órgãos públicos, como Rede de Viação Paraná-Santa Catarina, secretaria estadual de Obras Públicas, departamentos de Estradas de Rodagem, de Água e Esgoto, de Edificações, Companhia Mecânica Brasileira. Atuou também em instituições previdenciárias como o antigo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários e o Ipase. Participou da construção de obras nos portos de Paranaguá e Antonina e da ponte Brasil-Paraguai.
*Texto extraído do Livro Um Pioneiro A Caminho do Centenário, por Júlio Zaruch.