Que o desenvolvimento sustentável e uma economia mais verde são o futuro do planeta, se desejarmos ter futuro, ninguém discute, principalmente como profissional das ciências agrárias e educador.
No entanto, todos os dias leio expressões de autoridades de países desenvolvidos que me fazem refletir:
1 “Parar o desmatamento é vital para o desenvolvimento econômico global”. Concordo e pergunto: reflorestar o que destruíram há séculos também não seria?
2 “As florestas tropicais são essenciais para a vida no planeta”. Concordo e pergunto: as florestas das regiões de clima frio também não seriam?
3 “O Brasil não se importa com o meio ambiente e sua política é um desastre nessa área”. Vamos à fria análise dos números. Temos um dos códigos florestais mais restritivos do mundo. Preservamos 66% do território brasileiro ou 632 milhões de hectares, segundo a Embrapa Territorial. Isso equivale a área somada de mais de 40 países da Europa. Desse total 218 milhões de hectares estão dentro das propriedades agropecuárias como reserva legal ou áreas de preservação permanente. Isso representa 25,6% do território brasileiro ou em média 50% das áreas das propriedades (no mínimo 20% no Sul e 80% na Amazônia). E as áreas destinadas a produção das lavouras, pastagens plantadas e florestas plantadas somam 22,2% do território nacional – menos, portanto, do que aquelas que os produtores preservam. Pergunto: quais produtores dos países desenvolvidos fazem isso ou tem legislação florestal semelhante?
4 “As queimadas devem ser abolidas, pelo efeito sobre o aquecimento global e a destruição da vida”. Também concordo e pergunto: as queimadas na Europa, EUA, Austrália, Rússia, em países da África e em outros também não provocam os mesmos efeitos?
5 Dos países do mundo com grande extensão territorial, o Brasil é o primeiro em percentagem de energia renovável na composição da matriz energética total; o segundo em produção de biocombustíveis e o décimo quarto em emissões de gás carbônico entre 1998 e 2018 (China, EUA, Índia e Rússia são os maiores). Mas temos um problema, de desmate e queimadas em áreas de terra não tituladas na Amazônia e de incêndios no Pantanal nesse ano, devido ao intenso período de seca e é nosso dever de casa contê-los.
Pergunto: em função disso, por que temos que contratar e pagar entidades para dizer que a quase totalidade da nossa produção agro não provém dessas áreas da Amazônia? E por que muitas dessas entidades são contra a legalização das áreas devolutas, o que fatalmente acabaria com a grilagem, o desmate e as queimadas ilegais?
Pergunto, ainda: o ato da oferta de algum dinheiro para mantermos a floresta da Amazônia em pé (que é nossa obrigação) e mantermos em 84% da área total daquele bioma, é a compra do direito de continuarem não reflorestando o que destruíram há séculos em seus países?
Não seria mais coerente com o meio ambiente global, já que foram os maiores poluidores, que além do esforço de mudarem suas matrizes energéticas também reflorestassem mais da metade dos seus territórios e sanassem esse passivo ambiental para com a humanidade?
Finalmente, se nós brasileiros não divulgamos toda essa realidade, quem fará?
Eugênio Libreloto Stefanelo
Coordenador da Câmara Técnica de Agronegócios do IEP